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julho 30, 2009

Reflexões do guerreiro da luz

Os amigos do guerreiro da luz perguntam de onde vem sua energia. Ele diz: "do inimigo oculto".
Os amigos perguntam quem é.
O guerreiro responde:"alguém que não podemos ferir".
Pode ser um menino que o derrotou numa briga na infância, a namorada que o deixou aos onze anos, o professor que o chamava de burro.
O inimigo oculto passa a ser um estímulo. Quando está cansado, o guerreiro lembra-se que ele ainda não viu sua coragem.
Não pensa em vingança, porque o inimigo oculto não faz mais parte de sua história. Pensa apenas em melhorar sua habilidade, para que seus feitos corram o mundo e cheguem aos ouvidos de quem o machucou no passado.
A dor de ontem transformou-se na força de hoje.


O guerreiro da luz acredita. Assim como as crianças acreditam.
Porque crê em milagres, os milagres começam a acontecer. Porque tem certeza que seu pensamento pode mudar sua vida, sua vida começa a mudar. Porque está certo que irá encontrar o amor, este amor aparece.
De vez em quando, se decepciona. As vezes, se machuca.
E então escuta os comentários: "como é ingênuo!"
Mas o guerreiro sabe que vale o preço. Para cada derrota, tem duas conquistas a seu favor.
Todos os que acreditam sabem disso....
(P.Coelho)

julho 29, 2009

Com que cor?


Como se faz para pintar uma flor que nasceu de um sonho de criança

com que tintas se pinta uma ilusão

e com que cores se colore o amor

Como se faz para escrever canções que falem da luz daqueles olhos tristes

que falem do riso que não se escutou

e do que a gente nunca se esqueceu

Como se faz para não se esquecer do que foi somente um dia a mais na vida

do que é feita a ilusão da vida

e de que cor eu pinto o esquecer

Não sei de cores e não sei pintar

sei bem demais só de esquecimento, mas como vou pintar este momento

em que pergunto como é que se faz .

(autoria desconhecida)

julho 28, 2009

Sonata da Paixão, por Helena Sut

Meu primeiro colo foi um canteiro.
Minha mãe tem nome de flor.

O ventre solo acolheu-me semente e lançou-me ao mundo rebento rosa chá.

Encontrei-me no sonho acolhido e flutuei no cerne da vida.

Minha mãe dizia entre risos que o meu pai tinha cheiro de alecrim.

Rosmaninho, orvalho do mar, folhas labiadas…

O tempero e a cor da minha trama.

Na concepção incorporei a maresia no oceano tranqüilo entranhado no corpo e percebi as marés e as luas na orla, protegida sobre as pedras do cais feminino.
Cresci com a dor do primeiro botão.

A saliência despertou no caule das primaveris vivências e desprendeu o tronco com circunstâncias de ventos.

Entornei o vinho dos virginais desejos e encontrei na carne as chagas do corpo em cruz.

Das cicatrizes, espinhos… Espinhos?

Dizem que resguardam os sonhos e debelam os medos, mas tem noites em que perco o sono, encolho-me, não percebo as alegorias e ainda sinto a aflição dos espinhos cravados na pele da lembrança.
Encontrei-me rubra com as pétalas revoltas.

Os caminhos… Tantas opções e apenas uma posse de passos.

Multiplicação de espinhos, ciclos de espera e renovação…

Passei em procissão e ornei o templo com fantasias.

Compreendi a sonata que repercutia e ritmava meus movimentos.

Tantas vezes me rebelei em sons discordantes.

Sangrei destinos e me cerzi em alguns acasos.

Moldura de risos, superfície de falsos planos…

Eu, o retrato enraizado no canteiro de um espelho; eu, o reflexo emoldurado em outras perspectivas…
Reconheci que paixão é um substantivo feminino como também a vida.

Brinquei com palavras e me conjuguei amor, busquei complementos em corpos etéreos, encontrei-me entre estrelas e pousei orvalho da noite no colo sereno da percepção do próprio ventre.

Pontuei orações com pétalas e espinhos sem finalizar as reticentes sementes manifestas no tempo.
Assumi a autoria de ser mulher.

julho 25, 2009

O Amor



Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e neste momento houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino: o amor.

Se um dia tiver que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir em pensamento sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado... se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite... se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a pessoa envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela... se você preferir morrer antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. É uma dádiva.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Ou às vezes encontram e por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso preste atenção nos sinais, não deixe que as loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor.

Carlos Drummond de Andrade

A mulher selvagem



Ela anda enjaulada, é verdade.
Mas continua viva na alma das mulheres.

Sua beleza é arisca, arredia aos modismos. Ela encanta por um não-sei-quê indefinível…
mas que também agride o olhar.
É um tipo raro e não tem habitat definido: vive em Catmandu, mora no prédio ao lado ou se mudou ontem para Barroquinha.
E não deixou o endereço. É ela, a mulher selvagem.

Em quase tudo ela é uma mulher comum: pega metrô lotado, aproveita as promoções, bota o lixo para fora e tem dia que desiste de sair porque se acha um trapo.
Porém em tudo que faz exala um frescor de liberdade.
E também dá arrepios: você tem a impressão que viu uma loba na espreita.
Você se assusta, olha de novo… e quem está ali é a mulher doce e simpática, ajeitando dengosa o cabelo, quase uma menininha.
Mas por um segundo você viu a loba, viu sim.
É a mulher selvagem.

A sociedade tenta mas não pode domesticá-la, ela se esquiva das regras.
Quando você pensa que capturou, escapole feito água entre os dedos.
Quando pensa que finalmente a conhece, ela surpreende outra vez.
Tem a alma livre e só se submete quando quer.
Por isso escolhe seus parceiros entre os que cultuam a liberdade.
E como os reconhece?
Como toda loba, pelo cheiro, por isso é bom não abusar de perfumes.
Seu movimento tem graça, o olhar destila uma sensualidade natural… mas, cuidado, não vá passando a mão.
Ela é um bicho, não esqueça.
Gosta de afago mas também arranha.
Repare que há sempre uma mecha teimosa de cabelo: é o espírito selvagem que sopra em sua alma a refrescante sensação de estar unida à Terra.
É daí que vem sua força e beleza. E sua sabedoria instintiva.
Sim, ela é sábia pois está em harmonia com os ritmos da Natureza. Por isso conhece a si mesma, sabe dos seus ciclos de crescimento e não sabota a própria felicidade.
Como todo bicho ela respeita seu corpo mas nem sempre resiste às guloseimas.
Riponga do mato, gabriela brejeira? Não necessariamente, a maioria vive na cidade. E há dias paquera aquele pretinho básico da vitrine.
E adora dançar em noite de lua.
Ah, então é uma bruxa…
Talvez, ela não liga para rótulos.
Sabe que a imensidão do ser não cabe nas definições.

Mulheres gostam de fazer mistério. Ela não, ela é o mistério.
Por uma razão simples: a mulher selvagem sabe que a vida é uma coisa assombrosa e perfeita e viver é o mais sagrado dos rituais.
Ela sente as estações e se movimenta com os ventos, rindo da chuva e chorando com os rios que morrem.
Coleciona pedrinhas, fala com plantas e de uma hora para outra quer ficar só, não insista. Não, ela não é uma esotérica deslumbrada mas vive se deslumbrando: com as heroínas dos filmes, aquela livraria nova, um presente inesperado…
Ela se apaixona, sonha acordada e tem insônia por amor.
As injustiças do mundo a angustiam mas ela respira fundo e renova sua fé na humanidade. Luta todos os dias por seus sonhos,
adormece em meio a perguntas sem respostas e desperta com o sussurro das manhãs em seu ouvido,
mais um dia perfeito para celebrar o imenso mistério de estar vivo.

Ela equilibra em si cultura e natureza, movendo-se bela e poética entre os dois extremos da humana condição.
Ela é rara, sim, mas não é uma aberração, um desvio evolutivo.
Pelo contrário: ela é a mais arquetípica e genuína expressão da feminilidade, a eterna celebração do sagrado feminino.
Ela está aí nas ruas, todos os dias. A mulher selvagem ainda sobrevive em todas as mulheres mas a maioria tem medo e a mantém enjaulada.
Ela é o que todas as mulheres são, sempre foram, mas a grande maioria esqueceu.

Felizmente algumas lembraram.
Foram incompreendidas, sim, mas lamberam suas feridas e encontraram o caminho de volta à sua própria natureza.
Esta crônica é uma homenagem a ela, a mulher selvagem, o tipo que fascina os homens que não têm medo do feminino.
Eles ficam um pouco nervosos, é verdade, quando de repente se vêem frente a frente com um espécime desses.
Por isso é que às vezes sobem correndo na primeira árvore.
Mas é normal. Depois eles descem, se aproximam desconfiados, trocam os cheiros e aí… Bem, aí a Natureza sabe o que faz.

Ricardo Kelmer 2004 – blogdokelmer.wordpress.com

Mulheres que correm com os lobos - Clarissa Pinkola Estes



"Todas nós temos anseio pelo que é selvagem.
Existem poucos antídotos aceitos por nossa cultura para esse desejo ardente.
Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração.
Deixamos crescer o cabelo e o usamos para esconder nossos sentimentos.
No entanto, o espectro da Mulher Selvagem ainda nos espreita de dia e de noite.
Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas."

julho 22, 2009

Paz!

"A paz não mora mais em nosso planeta.
Ela mudou-se para Marte, onde não existem seres humanos.

De lá, ela contempla aquela bela estrela azul.
E, com saudades de casa, chora.

Lembra das crianças assasinadas com tiros na nuca, corpos explodindo em prédios e trens, balas perdidas que encontram morada em inocentes.

Lembra das lágrimas que, de tantas, poderiam ressucitar a vida onde hoje ela mora.

Sente as ondas de dor, que de tão grandes chegam à ela, imóvel em sua contemplação.

A Paz chora, mas ainda não pensa em voltar.

Está desesperançada.

Precisamos escrever para ela.

Dizer que ela é nescessária à vida.

Que sem ela, caminhamos para uma inevitável extinção.

Pedir, implorar para que ela volte, pois sem ela seremos monstros,

feras insaciadas e ensandecidas.

Precisamos fazer algo para que ela acredite que ainda resta um pingo de esperança

nesse mar de dor e desespero.

A paz é uma idealista e crente.

Basta ela acreditar neste pequeno pingo, que ela volta

Vamos fazer um esforço."
Vamos escrever para ela...

Sérgio Borges

Blog Pirata da Rua




julho 21, 2009


Eu te daria o mundo se pudesse...

eu traria uma nuvem...

um sol...

escondido num punho cerrado, pra você...

pra fazer surpresa...
B.P

Estrelas

"Para aqueles que viajam, elas são guias;

para outros, não são senão pequenas luzes;

para os sábios, constituem-se em desafiantes problemas;

para os homens de negócios podem ser de ouro;

Todas essa estrelas se calam.

Mas tu terás uma estrela diferente

porque eu habitei numa delas e, ao rir,

será para ti como se todas as outras rissem também

e tu terás estrelas que sabem rir.

Teus amigos se surpreenderão

vendo-te olhar o céu e tu dirás:

Ah! É verdade, as estrelas me fazem sempre rir."
Saint Exúpery



O amor é analfabeto (trecho do texto)


De tanto que pedi sinais a Deus, eu deixei de me ler.
Deus não concede sinais.
Deus é analfabeto.
Ele não precisa ler para entender, entende antes da leitura.
Ele escuta o que pensamos.
Escuta até o que deixamos de pensar.
Nós é que precisamos escrever para provar que existimos
e ler para ter uma segunda chance.
Deus nos deu o amor para sermos analfabeto e errar a linha.


Fabrício Carpinejar

julho 16, 2009

Simplesmente mulher!


"Uma mulher é linda quando mostra sua alma, quando seu olhar transmite tudo o que verdadeiramente é.

Uma mulher é linda quando faz valer sua singularidade, apenas se permite ser uma Maria entre outras Marias.

Uma mulher é linda ao dormir, despida de suas vestes, das cores que pintam seu rosto, solta em sonhos que acalantam e embalam seus melhores e mais intensos desejos.

Uma mulher é linda enquanto fêmea, envolvida em lençóis de seda vermelha, entre pétalas e rosas, pele perfumada com o mais puro jasmim, a espera do amado.

Uma mulher é linda quando carrega em si a maternidade, luz interior que transborda sublime, carinhosamente.

Uma mulher é linda quando sua voz é ouvida nas grandes pláteias de teatro, na TV, nas cátedras das universidades, nos plenários politícos, nos júris, salvando vidas, educando no lar e nas escolas, exercendo múltiplas profissões.

Uma mulher é linda quando volta seu olhar ao mundo interior, deixando-se inundar de amor com o Pai, encontro oblativo de mente e espírito com seu Criador.

Ser... simplesmente
Lu Barros

julho 15, 2009


Um brinde à vida
E a cada sonho que surge todos os instantes
Vamos celebrar a vida em sua plenitude

E vivê-la sem medo
Bebendo suas dádivas
E sorrir sem remorso por ter tentado ser feliz
Vamos entoar um hino em homenagem à luz

E absorver seu brilho
Vamos fazer das lágrimas que rolam em nossos rostos
Pedras preciosas que brilham e iluminam nossos olhos
Vamos fazer de cada espinho

A esperança de encontrar uma rosa
E de cada dor
A possibilidade de um sorriso
Vamos encarar a vida

Como um presente que deve ser desfrutado
Vamos usufruir da nossa felicidade
Que ela é de graça e só a nós pertence
E não vamos deixar que nos cobrem por ela
Vamos sorrir sem medo de mostrar ao mundo

Que somos felizes
Porque não há pecado algum
Em saber aproveitar os presentes
que Deus nos dá todos os dias
Vamos simplesmente viver.

Clarice Lispector

Frase....


Quero uma mulher serena dentro de mim.

Quero o simples de Marias.

Quero a força de Helenas.

Quero um rouxinol.

- Cobbett -
"Eu sou antes, eu sou sempre, eu sou nunca.

E o que me espera é exatamente o inesperado.

O que saberás de mim é a sombra da flecha que se fincou no alvo.

Pois há segredos que eu não conto nem a mim mesma.

O silêncio que trago em mim, é a resposta ao meu mistério"

Clarice Lispector

Frase....























“ Faça todo o bem que puder ...
Por todos os meios que puder...
De todas as maneiras que puder...
Em todos os lugares que puder...
Todas as horas que puder...
Para todas as pessoas que puder...
Enquanto você puder.”


(John Wesley)

julho 14, 2009

POR VOCÊ




Como disse o poeta Cazuza:

“Por você eu dançaria tango no teto”

“Eu limparia os trilhos do metrô”

“Eu iria a pé do Rio a Salvador”

É, mas como eu não sou poeta

Não sei dançar tango

Não trabalho no metrô

E não tenho tempo para fazer caminhadas...

]pensei em realizar coisas mais “viáveis”.

E assim, decidi que por você:

Eu iria ao infinito buscar estrelas para te presentear...

Eu guardaria a lua para iluminar todas as suas noites...

Eu mandaria o sol aquecer o teu corpo todas as manhãs...

Eu traria o arco-íris para fazer morada na tua janela...

Eu determinaria aos pássaros que cantassem diariamente pra você...

Eu construiria uma ponte para te levar até o céu...

Eu chamaria uma fada para transformar o seu mundo num jardim florido e perfumado...

Eu diria ao vento que mandasse brisas permanentes para refrescar o teu corpo...

E por fim, querida, Eu pediria a Deus que nunca ofuscasse o brilho do teu olhar.

Pediria a ELE que mantivesse tua alma sempre iluminada

e o meu coração sempre apaixonado por você.


Magno R Almeida

Gotinhas de madrepérola, por edson Marques


Gotinhas de madrepérola caem delicadas sobre mim.

Vou à praia tomando chuva.

Na areia, histórias onduladas, deliciosas, navegantes.

Calígula, você sabe, antes de invadir a Britânia, ordenou aos soldados das legiões romanas que catassem conchinhas à beira-mar.

Começo a pensar na beleza dos legionários tomando sol em vez de fazer a guerra.

Decido então distrair o meu espírito na Enseada, como fosse um Tibério na Ilha de Capri.E começo a catar conchinhas nesta plena quinta-feira, entre suspiros de amor e riscos na areia.

Exercito a coragem fazendo arte.

Tomo água de coco, e penso em ócios e negócios, em reais e fantasias.

Medito girando — e a praia dança.

Só me resta lembrar do que ontem me disse Kierkegaard: "Arriscar-se é perder o equilíbrio por uns tempos... Mas não se arriscar é perder-se a si mesmo para sempre".


julho 12, 2009

Poema do Menino Jesus


Num meio-dia de fim de Primavera
Eu tive um sonho como uma fotografia:
Vi Jesus Cristo descer à Terra.
Ele veio pela encosta de um monte,
Mas era outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
A arrancar flores para deitar fora,
E a rir de modo a ouvir-se de longe.


Ele tinha fugido do céu.
Era nosso demais pra fingir-se
De Segunda pessoa da Trindade.


Um dia que Deus estava dormindo
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro Ele fez com que ninguém soubesse que Ele tinha fugido;
Com o segundo Ele se criou eternamente humano e menino;
E com o terceiro Ele criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois Ele fugiu para o Sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo.
É uma criança bonita, de riso natural.
Limpa o nariz com o braço direito,
Chapinha nas poças d'água,
Colhe as flores, gosta delas, esquece.
Atira pedras aos burros,
Colhe as frutas nos pomares,
E foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam,
E toda gente acha graça,
Ele corre atrás das raparigas
Que levam as bilhas na cabeça
E levanta-lhes a saia.
=
A mim, Ele me ensinou tudo.
Ele me ensinou a olhar para as coisas.
Ele me aponta todas as cores que há nas flores
E me mostra como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
=
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro.
Vivemos juntos os dois
Com um acordo íntimo,
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa.
Graves, como convém a um Deus e a um poeta.
Como se cada pedra
Fosse todo o Universo
E fosse por isso um perigo muito grande
Deixá-la cair no chão.
=
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos homens.
E Ele sorri, porque tudo é incrível.
Ele ri dos reis e dos que não são reis.
E tem pena de ouvir falar das guerras
E dos comércios.
=
Depois Ele adormece e eu
O levo no colo para dentro da minha casa,
Deito-o na minha cama, despindo-o lentamente,
Como seguindo um ritual todo humano
E todo materno até Ele estar nu.
=
Ele dorme dentro da minha alma.
Às vezes Ele acorda de noite,
Brinca com meus sonhos.
Vira uns de perna pro ar,
Põe uns por cima dos outros,
E bate palmas, sozinho,
Sorrindo para os meus sonhos.
=
Quando eu morrer, Filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno,
Pega-me Tu ao colo,
Leva-me para dentro a Tua casa.
Deita-me na Tua cama.
Despe o meu ser, cansado e humano.
Conta-me histórias caso eu acorde
Para eu tornar a adormecer,
E dá-me sonhos Teus para eu brincar.


Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

julho 11, 2009

A chuva chove, por Cecília Meireles

A chuva chove mansamente... como um sono
que tranquilize, pacifique, resserene...
a chuva chove mansamente... Que abandono!
A chuva é a música de um poema de Verlaine...
E vem-me um sonho de uma véspera solene,
em certo paço, já sem data e já sem dono...
Véspera triste como a noite, que envenene a alma,
evocando coisas líricas de outono...


... Num velho paço, muito longe, em terra estranha,
com muitas névoa pelos ombros da montanha...
Paço de imensos corredores espectrais,

onde murmurem, velhos órgãos, árias mortas,
enquanto o vento, estrepitando pelas portas,
revira in-fólios, cancioneireiros e missais...

julho 10, 2009

Charles


"Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve, e a vida é "muito" para ser insignificante".
Charles Chaplin

Retrato, por Lu Barros


Mente confusa
Neblina a visão que se turva
Recordações do que passou
De um tempo tão distante...
Já não se pode tocar
Só sentir.
Recordo os dias de verão, as noites de lua
Penso no que foi bom e no instante inacabado
Desejos diferentes,
Caminhos desiguais
Tudo é pouco, Tudo é nada
O minuto indefinido.

Restam as marcas tatuadas na alma
Promessas inscritas agora sem sentido,
Perdidas na peça da vida.

Percebo o tempo que se finda
Fio da navalha que corta
Que rasga o coração
Que sangra.

Recolho as lágrimas que por instantes
Insistem em quedar o rosto
Recôndito do instante triste
Retrato do passado
Agora tão distante.

Por Lu Barros, dedicado a N.B.

MEU CORAÇÃO


"Dos corazones debiera tener.


Como los ojos, las manos, los pies.


Si uno se enferma de pena y dolor;


el outro, que esta sanito,


se va buscando outro amor."
(Canção popular chilena)



Meu coração percorre o mundo há milênios: das grutas paleolíticas, onde primitivas mãos o plasmaram na rocha para sempre, às pirâmides egípcias, em cujos ventres úmidos ele guarda o sono de faraós e rainhas; da velha Índia dos filhos de Shiva e Shakti às eras aztecas em que, pulsante foi ofertado em sacrifício ao Sol; da Grécia antiga à Galiléia dos caminhos de Cristo; das escuras aldeias medievais às feéricas cidades deste presente inquieto e inquietante, por cujas ruas levo-o comigo, anônimo, sossegado ou agitado em meu peito, jogando laços de afeto que vão aprendendo a beleza, emoção, o amor e, quando possível, a cumplicidade, território onde só permito a entrada a muito poucos.

E porque sua amplidão é infinita e contraditória – Contradigo-me? Sim. Contenho multidões, diria o poeta -, meu coração me diz que também pode ser abrigo de mágoa ou bomba capaz de ferir com ódio.
Muito antes de transformar-se em palavra, construída pelo velho latim – cor – e o antigo grego – ker, kear, kardia -, meu coração já media seu ritmo pelo sangue e o símbolo, atravessando os séculos, como tenho o pressentimento – que os hispanos chamam de corazonada – de que ele sobreviverá a mim na lembrança de quem me ama. Nesse caminhar; sua personalidade se multifacetou em flor e lago, campo e mar, em montanha, ouro e pedra, em leão. Em passarinho, como na inspiração de Castro Alves: O coração é o colibri dourado / Das veigas puras do jardim do céu. / Um – tem o mel da granadilha agreste, / Bebe os perfumes que a bonina deu. / O outro – voa em mais virentes balças. / Pousa de um riso na rubente flor. / Vive do mel – a que se chama – crenças, / Vive do aroma – que se diz – amor.
Esse simbolismo se universalizou em canções e poemas em todos os idiomas, como se o sangue dos povos se misturasse e a linguagem cardíaca se amalgamasse indissoluvelmente. Assim, meu coração também é poliglota e eu posso ofertá-lo à humanidade sabendo que ela inteira me entenderá quando, sem precisar indicar seu lugar em meu peito, eu disser apenas: coração, corazón, heart, cuore, hjerte, sydän, herz, szird-is, hjärta, coeur, ssird, hjerte, cord, kardia, hrid, crudize, ssirds, hearte, hairto... e todas as palavras que ainda não aprendi a dizer, mas que posso sentir plenamente, pois como aconteceu com Maiakovski. Comigo a anatomia enlouqueceu. / sou todo coração!
Por tudo isso, meu coração é universal como uma sinfonia, uma escultura ou uma tela, que pode encantar ou ferir, inspirar ou entristecer; exaltar ou denunciar.
E paradoxalmente autêntico: território sagrado e profano; sábio – mais do que a mente, dizem, filosoficamente, os chineses – e ingênuo; ancestral e criança; caçador da paz, mas, se preciso, ferozmente disposto para a guerra; egoísta e magnânimo; fonte da minha vida e – quem sabe? – da de mais alguém; astucioso e franco; objeto do doar-se e ninho de acolher a amplidão, temeroso e temerário; espontaneamente falante e teimosamente calado; arrojado e tímido; eufórico e choroso; simbólico e visceralmente real; cofre de sangue e sonho.
E, embora planetário, o melhor é saber e sentir; como Werther, que meu coração, só eu o tenho. E quem não me compreende – que pena! É porque não tem coração.



Wilson A. de Oliveira Jr.
Prof. Adjunto de Cardiologia da Universidade de Pernambuco - UPE.

O Abandono de cada um, por Socorro Capiberibe

Com a correria dos tempos modernos, em meio a tantos compromissos, atividades e informações, os desencontros tornam-se cada vez mais freqüentes entre os familiares, de tal forma que os parentes mais próximos ou os amigos mais íntimos sentem-se órfãos do carinho e da cumplicidade, e tornam-se às vezes pessoas solitárias, estranhas, individualistas, quase inacessíveis.
Crescem os relacionamentos virtuais e enfraquecem os relacionamentos reais.
Aumentam as amizades ocasionais: da academia, do clube, do jogo, do inglês, do espanhol, dos cursos disso ou daquilo... e falta tempo para os amigos antigos, os amigos de sempre.
As salas de jogos e de bate-papo na Internet estão cada vez mais concorridas; as caixas-postais são cada vez mais lotadas de e-mails de novos e numerosos amigos; enquanto o diálogo entre os familiares e as conversas com os amigos mais íntimos ficam cada vez mais distantes e restritas aos aniversários e Natais da vida.
Muitas vezes, sabe-se mais da vida à distância, do que acontece na intimidade do lar.
Não é raro ver uma família viajando num final de semana num mesmo carro, com cada um envolvido numa situação individual diferente:
O pai guia o automóvel concentrado na direção e na estrada, enquanto ouve o cd de boleros que separou para a viagem; a esposa conversa animadamente pelo celular com uma amiga; o filho com um walkman ligado ao ouvido curtindo seu próprio som e a filha num papo apaixonadíssimo também pelo celular com o namorado. Cada um perdido no seu próprio mundo e distante um do outro.

E essa família perde a oportunidade feliz daquele passeio agradável, da conversa descontraída, da música em comum, da paisagem compartilhada, daquele fim de semana tão raro... (Sim, porque reunir a família nos dias de hoje, com a diversidade de programas, é algo difícil).


E, quando chegam no hotel ou na casa de praia, fica cada qual no seu canto...

O pai vai ler os jornais e todas as revistas que trouxe ou posta-se diante da tv atento a todos os tele-jornais e canais de filmes; o filho fica horas jogando no computador ou no telefone com os amigos; a filha não desgruda do namorado pelo celular ou disputa o computador com o irmão; e a mãe vai curtir sua solidão na piscina ou no mar,
enganando-se de pegar um sol...
No final do programa, voltam para casa tão solitários quanto antes, sabendo cada vez menos da vida uns dos outros e pensando que ficaram juntos!!!
E mais...
Sem saber quando a família poderá estar toda reunida de novo para um outro fim de semana.
- Será que isso tem a ver com o número cada vez maior de pessoas nos consultórios buscando compartilhar sua solidão?

julho 05, 2009

Verso


Navegando a poesia
desperto um sol amarelo.

E canto o cotidiano
nas espirais que pincelo.

a minha luta é a paz,
sou verso, estrofe...
Rubenio Marcelo

Olhar

"Aprendi a olhar a vida por outras janelas.

A perceber que a diferença não está no lugar, mas no olhar.

O olhar pode nos fazer sonhar ou acordar.

Se tenho um jardim, uma janela, um olhar, o mundo é meu."


Rita Andrade Quadra Penalva