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agosto 31, 2007

Um bilhete recebido

Encontrei entre meus guardados um pedacinho de papel já amarelado pelo tempo, um bilhetinho de uma amiga muito especial da minha infancia e adolescencia. Achei que deveria eternizá-lo aqui neste meu espaço. Sou muito feliz porque na minha vida fiz belas amizades as quais guardo no lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não... obrigada Maria José, boa amiga Mazé.
O que importa é ouvir a voz que vem do coração...

Aflitos, 05 de julho de 1984.


Eluza querida,

Vivo momentos felizes, quase inacreditáveis...
Gostaria que soubesses que partilho cada um desses momentinhos com o coração cheio de amor e confiança, pois, esses sentimentos eu consegui solidificar a partir do nosso maravilhoso tempo de adolescentes carentes de paz e esperança...
Sou sinceramente agradecida a ti que abriste-me os olhos da alma para a essência do espírito cristão...
Tenho o maior orgulho de ter como verdadeira amiga uma criatura transcendental que vive eternamente comigo,
é essa pessoa a única que tem no meio do seu lindo nome
a grandeza e a esperança da vida "E "luz" a".

agosto 27, 2007

DESENCANTO, por Manoel Bandeira


Eu faço versos como quem chora
De desalento ... de desencanto ...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente ...
Tristeza esparsa ... remorso vão ...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

agosto 26, 2007

Poema da Noite, por Zelia Bora


Gostaria de nada desejar esta noite a não ser
O sono dos inocentes,
repousar minha cabeça cansada sobre um
travesseiro quieto.
Não sonharia, porque os sonhos projetam nossos
desejos fatigados
pelas perdas e ganhos.
Dormiria e acordaria sem alegria,
sem tristeza
e sem saudade,
enquanto o momento seria um leve
reconhecimento do que chamamos vida.
E, se eu desejasse algo,
lembraria, repentinamente, quem sabe,
teus olhos;
depois, tocaria meu lençol de flores miúdas de
um verão imaginário,
dormiria feliz e, pela manhã,
o sol brilharia lá fora e desafiaria inerte minha tola
existência


Zélia Bora tem doutorado em Estudos Portugueses e Brasileiros, pela Brown University, USA e atualmente é professora de Literatura Brasileira da Universidade Federal da Paraíba –UFPb.

agosto 20, 2007

Ausência, por Vinicius de Moraes



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doce
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei… tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinícius de Moraes

Cartas de amor


Todas as cartas de amor são ridículas.
Não seriam cartas de amor
Se não fossem ridículas.
Também escrevi em meu tempo
cartas de amor,
Como as outras,
ridículas.
As cartas de amor,
Se há amor,
Têm de ser ridículas.
Mas, afinal, só as criaturas
que nunca escreveram
cartas de amor
É que são ridículas...

Álvaro de Campos ( heterônimo de Fernando Pessoa ) - 21/10/1935

agosto 08, 2007

Te Quiero, por Pablo Neruda



No te quiero sino porque te quiero
y de quererte a no quererte llego
y de esperarte cuando no te espero
pasa mi corazón del frío al fuego.

Te quiero sólo porque a ti te quiero,
te odio sin fin, y odiándote te ruego,
y la medida de mi amor viajero
es no verte y amarte como un ciego.

Tal vez consumirá la luz de enero,
su rayo cruel, mi corazón entero,
robándome la llave del sosiego.

En esta historia sólo yo me muero
y moriré de amor porque te quiero,
porque te quiero, amor,
a sangre y fuego.

Pablo Neruda: Cien sonetos de amor

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.

Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te, como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.

agosto 05, 2007

por CORA CORALINA




Não sei se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada que vivemos
tem sentido,
se não tocamos o coração
das pessoas.
Muitas vezes
basta ser Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo.
È o que dá sentido a vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta,
nem longa demais.
Mas que seja intensa,
verdadeira e pura.
Enquanto durar.
" Feliz aquele que transfere o que sabe...
e aprende o que ensina".
Cora Coralina

agosto 04, 2007

Quem Morre?, Por Pablo Neruda


Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.