Sou música penetrando-me a consciência do agora,
sou o sol lá fora sobre o canto das águas;
sou meu lado esquerdo, minha parte, meu todo;
sou sangue, desejo, emoção;
sou filho de mim — e profeta que me anuncia;
sou lembranças gostosas povoando este lugar;
sou o próprio fogo que me aquece com imagens que ainda vou ter;
sou a manhã,
sou hoje, maçã, caramelo, açúcar, desejo, ciência, perfume, delito — e canção;
sou azul, coração, noite, madrugada, vinho, cerejas, orvalho e barulho do mar;
sou os primeiros violinos que agora se mostram com todo vigor, o próprio Beethoven que
chega regendo essa orquestra que tenho no peito;
sou Vangelis, que num simples silêncio se vai,
sou agora Narciso, sou Nabuco — e o lindo coro dos escravos hebreus.
(Edson Marques)