Falar hoje sobre energia masculina se tornou uma ousadia.
Dá arrepios
em boa parte das mulheres que carrega a memória dos abusos e crimes
cometidos a suas avós. Isso é totalmente compreensível.
Aliás, o homem
contemporâneo parece sentir culpa por seus ancestrais violentos.
Não foi
ele quem estuprou mulheres na Índia, apedrejou Madalena, queimou bruxas
ou sangrou cabarés. Mas foram seus antigos vovôs tão presentes em sua
alma.
O machismo, o patriarcado e a brutalidade são apenas o lado sombrio
do masculino.
Há na energia yang uma beleza e uma força tão necessárias à
vida quanto na energia feminina.
No início da existência, por exemplo, o
pai se encarrega de apresentar o filho ao mundo depois que ele se
nutriu no colo delicioso e apaixonante da mãe.
A energia masculina
favorece autonomia, decisão, ordem, lei, hierarquia, compreensão do dar e
receber e dignidade para assumir as conseqüências dos nossos atos.
É
linda. Introduz os filhos nas leis da terra. Não tem a aura encantada do
afeto e da ternura maternas.
A beleza, a mística e o êxtase do colo
absoluto.
Mas serve o propósito assim.
Masculino e feminino se
reconhecem como um par de bailarinos.
Desconsiderar a importância do masculino, julgando-o pelos excessos
da história, é mutilar a alma.
Não se alcança a liberdade e a plenitude
jogando o pai pela janela, desprezando sua função.
Tampouco destronando o
rei.
O poder masculino é tão necessário quanto o poder feminino embora
ambos se expressem de modo distinto.
Uma sociedade que glorifica a mãe
em detrimento do pai atrofia os meninos.
É tão perversa quanto a que
humilha as mulheres, ignorando-as rainhas sábias e sagazes.
Carinho,
amor, beleza, compreensão, criatividade precisam andar de mãos dadas com
clareza, objetividade, justiça e honra.
Claro, há também as sombras de
cada aspecto. Porém, yin e yang não são rivais e sim amantes.
Tenho ouvido muitas mulheres se queixando da falta de iniciativa dos
parceiros.
Da passividade. Estão cansadas de fazer tudo.
Os papéis
ficaram misturados demais.
Se o homem bruto era cruel, o homem culpado
ficou omisso e reticente.
Pede licença demais. Tornou-se flácido e
vacilante.
Nada atraente. Tem medo de se expor e conduzir. Porque
conduzir é errar e ser finito.
Ora, há momentos em que o homem conduz e
há aqueles em que a mulher conduz.
Iniciativa e sedução.
É simples.
Porém, o coração precisa estar aberto.
Para compreender, sem drama ou
falso perdão, o peso dos relacionamentos violados, a culpa e o
ressentimento, os jogos de vingança.
Não apontar o dedo para vovôs
dominadores e vovós submissas, desonrando nossa origem.
Sem eles jamais
estaríamos aqui.
Isso não significa que precisamos segui-los, repetindo
seus destinos.
Pedir a benção é mais sábio e nos abre para o novo.
Talvez eles nos sussurrem caminhos inéditos para o casamento feliz.
Talvez nos contem segredos de amor que nos guardaram de herança.
E assim
quem sabe fiquemos realmente livres para amar.
Além de todos os
modismos e sectarismos.
Ao som de um tango.
Por Luiz Marcelo Oliveira