Seguidores

julho 15, 2007

A VIDA PELO LADO DE DENTRO



O mundo será sempre como nós somos. Os sentimentos, as idéias, os desejos e os pensamentos que compõem nossa vida interior, terminarão por influir na dinâmica do mundo, atingindo coisas e pessoas. Quando nos queixamos das angústias e das dores que encontramos no ambiente que nos rodeia, na realidade estamos expressando desgosto conosco mesmos. Se o que existe dentro de nós produz bem-estar e se reveste de respeito e apreço pelo que está fora de nós, começaremos a interferir em nossa forma de viver. O mundo mudará na medida que manifestarmos, de uma forma amorosa, os anseios que vivemos internamente.Quantas coisas boas imaginamos e, mesmo, desejamos realizar, mas as destruímos no seu nascedouro, privando-nos a nós e aos outros de experimentar do manancial que temos!O mundo será sempre parecido com o que está dentro de nós. Se somos impacientes, a impaciência atingirá os que estão próximos de nós. Se somos medrosos, o medo contaminará os que estão ao nosso lado. Se somos mesquinhos, mesquinho também será o mundo do nosso entorno. O mundo nunca será diferente do que somos.Isso nos mostra que dificilmente conseguiremos ensinar às pessoas aquilo que sabemos. Ensinamos, sim, o que somos. Não é a palavra, por mais significado pedagógico que tenha seu conteúdo, que produzirá algum ensinamento relevante. A efetivação do que se ensina – o que equivale dizer, mudança de comportamento – será sempre a absorção do testemunho alheio através de atitudes e ações. A palavra tem sua importância como uma forma de sublinhar a ação. Ensinamos o que somos e não propriamente o que sabemos. Essa constatação é clara no âmbito da família. Pais e mães se angustiam por verem poucos resultados na explicitação de seus ensinamentos verbais. Os filhos, às vezes, têm dificuldade de ver coerência entre o que os pais verbalizam e a ação que empreendem como pessoas. O mesmo vemos em nossa relação com professores, superiores hierárquicos no trabalho profissional e até no âmbito mais amplo da liderança comunitária. As palavras, por mais sábias que sejam, não resistirão à ação corrosiva do testemunho contraditório de quem as profere.Temos aprendido a arte da organização, o que, certamente, resulta em muitos benefícios para a nossa sobrevivência em um mundo tão cheio de contradições. Muitos têm sido os métodos e as técnicas que nos auxiliam no trabalho profissional, nas relações do dia-a-dia com as pessoas, no aproveitamento dos esforços da comunidade. Alguns de nós nos tornamos exímios organizadores do ambiente no qual desenvolvemos a vida, no entanto, nos distanciamos da organização fundamental, aquela que nos prepara interiormente para ver no mundo fora de nós o sentido produtivo da existência.Somos, de modo geral, despreparados para proceder à organização interna da mente e das emoções que dão forma ao nosso sentido de vida. De que vale a organização de fora sem a motivação e o direcionamento da organização de dentro?Fazemos, muitas vezes, esforços titânicos para organizar a vida externa sem nos dar conta que perderemos tais conquistas se não conseguirmos nos organizar internamente.Infelizmente, deixamos em plano secundário, quando não completamente no esquecimento, o hábito da reflexão, da meditação e da revisão de nossos pensamentos, idéias e emoções. Nunca seremos inteiramente felizes se não conseguirmos a harmonia entre o sentido de vida e nossas ações diante das coisas e pessoas que estão à nossa volta.Essa não é uma tarefa fácil e nem mesmo tranqüila. O barco não se movimenta na calmaria. Será sempre necessária a ação dos ventos, que deixam as águas agitadas, mas promovem a impulsão das velas, que o empurram para adiante.A ação, o progresso, o crescimento têm por trás de si a ebulição da alma e a agitação das emoções. A calma nos prepara para o desenvolvimento; a calmaria nos leva à improdutividade. O crescimento ocorre, de uma forma geral, no contexto de crises, entendendo “crise” como um movimento de mudança. Não se conquista o crescimento sem dores. Sem dúvida, existem lágrimas que são doces. São conhecidas dos adolescentes as experiências das dores corporais do crescimento físico. Benditas dores! Mais uma vez desperdiçamos nossos esforços quando prestamos atenção apenas no que está fora de nós. Quando nos voltamos para o lado de dentro da vida – a mente e as emoções – descobrimos que nos encontramos com aspectos que ultrapassam as fronteiras da razão. Isso só acontece quando mergulhamos em nossa própria alma, onde a razão não consegue penetrar.É nesse momento que começamos a percorrer o caminho da sabedoria e descobrir que a vida se constitui muito mais no que está dentro de nós do que daquilo que está fora. “A sabedoria consiste em estar confortável com a certeza e a incerteza” (49). Não só estamos bem quando somos acalentados pela certeza. Também poderemos viver seguros, mesmo quando identificamos incertezas, que apontam para os nossos limites. É aí que aprendemos a humildade, que sendo, grandes ou pequenos, sábios ou ignorantes, podemos viver em harmonia com a vida.A sabedoria nos leva à humildade e esta à simplicidade. Dessa forma, torna-se fácil viver, apesar das conturbações externas. A força que construímos dentro de nós se torna suficiente para resistir às agressões e injustiças que vêm de fora.A sabedoria, a humildade e a simplicidade estão incrustadas em um alicerce indestrutível: o amor. Se conquistarmos a coragem de amar, teremos adquirido um instrumento eficiente para viver. Parafraseando Platão, poderemos dizer: “ Uma vez acesa a chama do amor, nunca se extinguirá” (50). Quem conquista a coragem de amar não sofrerá derrotas definitivas. O amor permanecerá, enquanto permanecermos como pessoas.Vivemos de milagres – a vida é um milagre. E fazemos parte desse milagre. Vivemos de amor – e o amor, sem dúvida, é o grande milagre da vida.
Luis schetinni – psicólogo pernambucano

3 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo texto.


Mas, quado se falou de crise, como um momento de mudança, lembrei-me de uma frase do Trotsky (já fui amante desse velho revolucionário!), que (se não me falha a memória) é a seguinte:


"Crise é o morrer do velho sem a possibilidade (completa) de nascimento do novo."



Abraços, flores, estrelas..


.

Anônimo disse...

Querida Eluza.
“Nessa vida viemos para aprender, e como não quero apenas passar por aqui sem nexo, continuo tirando proveito das grandes lições”

Estou sensibilizada pelo acidente da TAM, isso me faz valorizar mais e mais meus amigos. Parei tudo que estava fazendo para vir te dizer que você é especial. Obrigada por você existir.
Que Deus abençõe nossa amizade.

Um beijo carinhoso
Regina

Anônimo disse...

...O amor e benigno e supremo...