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fevereiro 04, 2008

O cão sem plumas", João Cabral de Melo Neto


(...) Aquele rio

era como um cão sem plumas.

Nada sabia da chuva azul,

da fonte cor de rosa,

da água do copo de água,

da água do cântaro,

dos peixes de água,

da brisa na água.

Sabia dos caranguejos

de lodo e ferrugem.

Sabia da lama como de uma mucosa. (...)

Na paisagem do rio

difícil é saber onde começa o rio;

onde a lama começa no rio;

onde a terra começa da lama

onde o homem, onde a pele começa

da lama; onde começa o homem

naquele homem.

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