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dezembro 01, 2009

Outonos e primaveras...



Outonos e primaveras...
A arte das sementes de morrer em silêncio
Primavera é tempo de ressurreição.

A vida cumpre o ofício de florescer ao seu tempo.

O que hoje está revestido de cores precisou passar pelo silêncio das sombras.

A vida não é por acaso.

Ela é fruto do processo que a encaminha sem pressa e sem atropelos a um destino que não finda, porque é ciclo que a faz continuar em insondáveis movimentos de vida e morte.

O florido sobre a terra não é acontecimento sem precedências.

Antes da flor, a morte da semente, o suspiro dissonante de quem se desprende do que é para ser revestido de outras grandezas.

O que hoje vejo e reconheço belo é apenas uma parte do processo. O que eu não pude ver é o que sustenta a beleza.
A arte de morrer em silêncio é atributo que pertence às sementes.

A dureza do chão não permite que os nossos olhos alcancem o acontecimento.

Antes de ser flor, a primavera é chão escuro de sombras, vida se entregando ao dialético movimento de uma morte anunciada, cumprida em partes.
A primavera só pode ser o que é porque o outono a embalou em seus braços.

Outono é o tempo em que as sementes deitam sobre a terra seus destinos de fecundidade.

É o tempo em que à morte se entregam, esperançosas de ressurreição.

Outono é a maternidade das floradas, dos cantos das cigarras e dos assovios dos ventos.

Outono é a preparação das aquarelas, dos trabalhos silenciosos que não causam alardes, mas, que, mais tarde, serão fundamentais para o sustento da beleza que há de vir.
São as estações do tempo.

São as estações da vida.
Há em nossos dias uma infinidade de cenas que podemos reconhecer a partir da mística dos outonos e das primaveras.

Também nós cumprimos em nossa carne humana os mesmos destinos.

Destino de morrer em pequenas partes, mediante sacrifícios que nos fazem abraçar o silêncio das sombras...

Destino de florescer costurados em cores,

alçados por alegrias que nos caem do céu, quando menos esperadas, anunciando que, depois de outonos,

a vida sempre nos reserva primaveras...


Pe.Fábio de Melo

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