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abril 24, 2007

Em homenagem a uma amiga extrovertida, divertida, sensível, e sobretudo uma linda mulher. A você Cláudia, que em tantos momentos tem sido mais lúcida dos que aqueles que não acreditam na sua lucidez e mais sensata dos que a julgam ao contrário, a voçê falta apenas acreditar mais em si própria se permitindo ser um pouco Narcisista na medida certa. Sucesso amiga em todos os seus empreendimentos porque é merecedora.


"POEMA EM LINHA RETA"

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Fernando Pessoa

2 comentários:

Minha Mãe, eu e o Alzheimer disse...

Não vou dizer que fiquei surpreendido com esta homenagem feita à Cláudia. Ela é uma mulher maravilhosa e não precisa de mais adjectivos.
Mas… surpreendeu-me a afirmação (na dedicatória), de que Cláudia “precisa de acreditar mais em si própria…”. Será?

Pessoa, revelou-se através de diversos heterónimos e justificou:

“Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos.) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida-real. Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar."

Será que Pessoa precisava de acreditar mais em sim próprio?

“Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! vou existir.
E-xis-tir...
E-xis-tir...
Dêem-me de beber, que não tenho sede!”

Tenho para mim que o importante mesmo, é sermos nós próprios. Sem dogmas ou fingimentos. O acreditar ou não, é secundário quando nos sentimos bem na nossa “pele”.

Parabéns pelo blog
Vítor Santos

Anônimo disse...

Grata e honrada por ter sido a amiga homenageada estreante em seu blog.
Estou enviando para seu email outra poesia que também mostra um pouco como me sinto - "Traduzir-se" de Ferreira Goulart.
Mas, antes gostaria de dizer ao mundo o quanto é bom ter você como amiga-irmã.
Falar que você é linda, é muito óbvio "tá na cara".
Boa mãe, companheira, irmã, tia, amiga também, quem a conhece sabe. Não sei se todos sabem é da mulher forte e batalhadora que você é. Mas, isso eu sei bem! Já te vi em momentos muito difíceis... achava que ias desabar, seria normal afinal, és humana, mas não, eras como um bambu; chegavas quase até o chão e voltavas inteira e firme. Nunca temias.
Tua fé sempre foi inabalável! E isso é o que mais respeito e admiro em ti.
Beijos de tua amiga um pouco confusa , mas que vê com clareza a pessoa linda que és.
Cláudia Borges