Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura,
já fui morena,
Já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena,
Só não pude ser como quis.
Que mal faz,
esta cor fingida
do meu cabelo,
e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo,
a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora,
serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada,
não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.
Cecília Meireles
publicado em Mar Absoluto - 1945
2 comentários:
Cecilia e vc são demais!
Lindas - fofas!
Belíssimo poema!
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Abraços, flores, estrelas..
.
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