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junho 30, 2007

MULHER AO ESPELHO

Hoje, que seja esta ou aquela, pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura,
já fui morena,
Já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena,
Só não pude ser como quis.
Que mal faz,
esta cor fingida
do meu cabelo,
e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo,
a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora,
serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada,
não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

Cecília Meireles
publicado em Mar Absoluto - 1945

2 comentários:

Noronha a Dois por Naná Diniz e Pati Dias Cerimonial & Assessoria para casais disse...

Cecilia e vc são demais!

Lindas - fofas!

Anônimo disse...

Belíssimo poema!



Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.




Abraços, flores, estrelas..

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